Arquitetura do Ramo Grande.

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É já sábado que, nas Lajes, se vai debater “arquitetura do Ramo Grande”. Em primeiro lugar, claro, perceber se existe mesmo uma forma distintiva de construir e organizar o espaço característica desta parte da ilha. Saber em contexto se terá desenvolvido. Qual o momento histórico que espoletou esta forma de apresentar e conceber as habitações. Falar-se-á certamente de terramotos, grandes catástrofes naturais, de resistência, resiliência e capacidade de superar dificuldades. Procuraremos definir as suas características e perceber por que razão muitas dessas casas vão sendo demolidas e património vai sendo perdido. Isto é, claro, como referi no início, se existe mesmo algo que mereça e deva ser preservado.

O que pode ser feito? Promovido por quem? Haverá necessidade de se proceder à sua classificação? Obrigar as pessoas a reconstruir ou remodelar nos moldes e parâmetros que essa classificação venha a definir? Haverá lugar à inovação em simbiose com esse modelo antigo? Quem paga e quem apoia? Que a mão de obra especializada em métodos de construção tradicionais é escassa e pouco acessível financeiramente. Só resta uma solução: mandar ao chão. É sabido que é muito mais barato deitar abaixo e fazer de novo, mesmo fazendo algo que, sob o ponto de vista exclusivamente visual, é muito aproximado do que lá estava. Existe, no entanto, um detalhe: não é o que lá estava. Será uma cópia. Um neo-Ramo Grande. Poderemos já falar da existência desta nova linguagem arquitetónica? O que pensam os especialistas sobre este assunto? Os historiadores? Os arquitetos? O turismo? Será que o turismo se contenta com este regionalinho de fachada?

Como se pode ver, à volta da temática “arquitetura do Ramo Grande” muitas são as questões a debater, as dúvidas, as incertezas, as respostas a serem dadas, os conceitos a clarificar. Existirá mesmo uma arquitetura do Ramo Grande? Ou isto é só prezamento bairrista?

Este debate, que terei o privilégio de moderar, está inserido na programação da Bienal Ibérica de Património Cultural – tecnologia e património – que tem lugar entre os dias 12 e 15 de outubro, em Angra. A Direção Regional dos Assuntos Culturais dos Açores, parceira do evento, em boa hora, teve a iniciativa de incluir no programa este debate que será antecedido por uma visita guiada a alguns exemplos daquilo a que chamamos “arquitetura do Ramo Grande”. O painel de convidados para a conversa é composto pelo Arquiteto João Vieira Caldas, pela Dra. Assunção Melo, pelo Arquiteto Fernando Costa, pelo Dr. João Pedro Meneses e pelo mestre Paulo Cardoso. Estou certo que, com estes convidados e com a participação do público, a abordagem a este tema não mais será a mesma. Para já, já estamos a bienal ibérica!

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