Nascidos antes do tempo.

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Atrás do tribunal da Praia costumavam estar estacionados dois elétricos. Daqueles amarelos, da Carris, que nos habituámos a ver circular pelas ruas de Lisboa. São, diga-se de passagem, a sua imagem de marca. Não me recordo quanto tempo lá estiveram, se terá lá embarcado algum passageiro, nem que destino estava registado na frente do veículo.

A Francisca vai casar.

No Poço da Areia, em vez de elétricos amarelos, estava estacionado um autocarro. Uma urbana, das mais antigas, grafitada. Esse não era o tempo da grafitagem ser considerada arte. Daí que, aquele mono azulado com letras não sei quais, causava estranheza a quem por lá passava ou a quem por cá residia.

O bolo pesa 150 quilogramas e usou 250 ovos.

No largo do Mira-Mar, para mim terá sempre essa designação, existiu, bem ao centro, um moinho de madeira. Não era um moinho verdadeiro, mas dava-se ares disso, batizando, inclusivamente a praia defronte. Para os da minha idade, aquela era a praia do moinho.

A cerimónia será no convento de Mafra, o tal do Memorial e das ratazanas cegas.

A presença daqueles elétricos foi causa de desconfiança coletiva. Digamos que andava a fazer “espécie” na cabeça dos praienses. Qual seria a sua finalidade? Para que os estacionaram ali? Quem o fez? À época, ninguém falava em sustentabilidade, nem ambiental, mobilidade elétrica, utilização de transportes públicos ou trotinetes (não é inocente a referência a este meio de locomoção). Estaria a Praia destinada a ter elétricos a circular pela cidade? Talvez não. É óbvio que não.

Diz que é infanta de Portugal. Julguei que os infantes eram filhos de Rei. Só que não há Rei.

A urbana grafitada do largo da batalha (a de 11 de agosto) era um bar e tinha esplanada. Não me recordo de alguma vez ter lá entrado. Lembro-me de pensar que não seria ambiente para mim. Não sei se isto foi coisa da minha cabeça ou se alguém me incutiu esta ideia. A verdade é que não me lembro de alguma vez lá ter entrado. Não podia ser coisa de gente séria. Um autocarro velho… pintado a latas de spray… não podia…

Vai usar uma tiara da rainha Dona Amélia.

Uma tasca? Um café? Um quiosque? Um bar de praia? Talvez fosse um pouco de tudo isso o bar do moinho. Também já ali não está, faz tempo. Contudo, as memórias de por quem ali se arrastou, se estatelou nas cadeiras da esplanada ou roçou calças e calções na muralha, ficaram como saudosa recordação de uma idade que nos marca a pele e nos molda o espírito. Onde nos encontramos, mesmo sem combinação prévia? Certamente no bar do moinho. No Mira Mar? Ou será no Papagaio?

São dois bolos. Um para o povo que vai assistir à cerimónia, no adro da Basílica, e outro para o banquete, em Sintra.

O projeto dos elétricos adivinhava-se muito mais ambicioso. À frente do seu tempo. Hoje, teria direito a reportagens televisivas ou destaques em sites especializados e, muito provavelmente, seria premiado. Sustentabilidade e inovação. Esses amarelos da Carris terão lá estado alguns meses? Alguns anos? Não tenho memória para responder. O que sei é que tão depressa ali estacionaram como, sem se dar conta, dali desapareceram.

O bolo terá uma cobertura em royal frosting (deve ser coisa chique), com artefactos alusivos à filigrana.

Quem haveria de dizer?! Naquele tempo, grafitis, pinturas murais, letras desenhadas com tinta de spray eram tudo, menos arte. E os seus autores, ao invés dos artistas plásticos que hoje são, eram vândalos, delinquentes, marginais de uma sociedade que se queria limpinha, a parecer limpinha. Hoje, as obras desses writers, street artists valem dinheiro e são cobiçadas pelas grandes galerias de arte e museus do mundo. Quando tudo parece estranho, por vezes, só o é porque apareceu antes do seu tempo.

Serão 1200 convidados, o que, de acordo com o chef, vai dar cerca de 100 gramas de bolo por pessoa.

Arriba! E lá começámos nós a beber tequila, a chupar limões e a lamber sal… Mas isso não era no mexicano?! Tal mistura…

A propósito, quem é a Francisca?

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